Busca por soluções de eficiência energética é impulsionada pelo aumento da energia
O aumento nos preços da energia causado pela crise hídrica fez a busca por eficiência energética crescer entre setores mais impactados pela pandemia, como hotelaria, shoppings, escolas e comércios. As inovações tecnológicas que otimizam a utilização da energia por meio da análise de consumo, por exemplo, estão atraindo consumidores.
Entre o final de 2020 e o primeiro semestre de 2021, empresas e institutos de pesquisa que fornecem soluções de eficiência energética notaram uma elevação na demanda. Foi o período em que muitos consumidores passaram a considerar um potencial agravamento da crise no setor de energia.
A perspectiva de racionalizar o consumo por meio da eficiência energética é um importante atrativo para esse tipo de solução. O aumento nos encargos pagos para o acionamento de térmicas (necessário em razão da crise hídrica que afetou profundamente as hidrelétricas) foi um alarme para os clientes do mercado livre – que podem escolher o próprio fornecedor.
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizou a aplicação da bandeira tarifária vermelha patamar 2, com aumento de 52%, a partir de 01 de julho. Esta elevação assustou consumidores e gerou uma promessa de crescimento na procura por tecnologias que contribuam para o consumo racional também no mercado cativo, atendido pelas distribuidoras.
A Fohat Corporation é uma startup de plataformas digitais voltadas à gestão e comercialização de energia. Seu fundador, Igor Ferreira, destaca que houve uma mudança nas ferramentas utilizadas na otimização do consumo de energia.
Soluções aplicadas aos sistemas de refrigeração e a utilização de sensores na iluminação são algumas das principais tendências do setor que antes tinha entre seus recursos mais comuns a substituição de equipamentos e lâmpadas por itens da mesma categoria, mas que apresentassem menor consumo. O foco atualmente é a busca por informação para gerenciamento de carga.
Acerca do tema, Ferreira declara: “A eficiência está ficando mais sutil, voltada para a gestão do uso da energia. Houve o desenvolvimento de ferramentas, como sensoriamento e internet das coisas. A partir de um mapa de oportunidades, é possível ter um processo de tomada de decisão mais inteligente, analisar quais são as cargas sensíveis de um processo produtivo e quais são as cargas não essenciais que podem ser desligadas”. De acordo com sua análise, é possível alcançar um corte de até 12% no consumo com a aplicação desse tipo de tecnologia.
A solução estudada pelo governo federal para enfrentar a crise é o programa de resposta da demanda. Caso a proposta se mantenha, o importante é que as empresas possam dispor de um conhecimento mais detalhado de seu uso de energia, o que acarretará em uma elevação na busca por inteligência energética.
Há ainda previsão para lançamento, no segundo semestre de 2021, do programa que busca oferecer um benefício às indústrias que deslocarem o consumo para fora do horário de pico.
Os sistemas de monitoramento através de aplicativos, que possibilitam enviar informações em tempo real sobre a demanda aos gestores das empresas, também despontam como tendência.
Há quem veja nesse cenário a oportunidade para investimentos direcionados à eficiência energética. É o caso da Go Energy, empresa que comercializa e fornece tecnologia para consumidores do mercado livre. Em sua visão, a adoção dessas soluções possibilita uma economia que justificaria novos aportes.
O presidente da empresa, Lucas Mendes, declara que “empresas que não têm uma conta de energia representativa para o faturamento não davam atenção ao tema, por falta de cultura. A motivação veio agora, a energia pesou no bolso. Muitos consumidores estão buscando migrar para o mercado livre ou procuram uma empresa especializada em gerir contas e fazer o controle de demanda”.
A Tyr Energia é outra empresa que observou o recente crescimento na demanda pela migração para o mercado livre aliado à necessidade de gerenciamento de carga. A companhia disponibiliza a associação dos dois serviços para condomínios comerciais e residenciais.
O monitoramento possibilita que clientes examinem sua movimentação de consumo e leva à busca de soluções para uma diminuição. É o que afirma o sócio da Tyr, Eduardo Miranda: “A maior parte da indústria já está no mercado livre, mas agora comércio e serviços também têm vindo buscar soluções”.
De acordo com dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o Brasil pode gerar uma economia no consumo de até 32 terawatts hora (TWh) em 2030 por meio da eficiência elétrica. O volume é equivalente a uma usina com potência de 7 gigawatts (GW), do tamanho do lado brasileiro da hidrelétrica de Itaipu.
Segundo o gerente do Instituto Senai de Inovação em Química Verde, Paulo Furio, a instituição está sendo procurada para parcerias por representantes dos setores de transformação, como siderúrgicas, cerâmica e metalomecânica.
A colaboração entre o Senai e a empresa de água mineral natural L’aqua viabilizou uma economia de 21% em energia após ajustes no tempo e faixa horária de utilização dos maquinários. Acerca do assunto, Furio declara: “Trabalhamos com simulações dos processos produtivos e analisamos cada fase para saber quanto da energia é desperdiçado. Fazemos um diagnóstico do balanceamento energético da empresa e trabalhamos na fase em que há desperdício. Pequenas mudanças podem levar a reduções no custo de 5% a 20%”.